De acordo com inúmeras autoridades de saúde, o impacto da pandemia Covid-19 é, de facto, alarmante, sendo ainda estimado uma maior propagação global da mesma. Este assunto tem causado pânico generalizado em toda a população, uma vez que são diariamente publicadas informações – muitas delas oriundas de fontes não fidedignas.
Neste artigo, tento cruzar conhecimentos científicos com preocupações manifestadas pela sociedade. A partir do trabalho da Instituição de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), vamos esclarecer alguns mitos e notícias falsas que tanto circulam.
A suplementação com vitaminas pode prevenir a transmissão ou tratar a COVID19?
É de conhecimento público que, até ao momento, ainda não foram reconhecidos fármacos ou suplementos capazes de precaver ou atuar sobre a Covid-19. De referir que os casos que estão confirmados da infeção devem receber o tratamento para que os sintomas sejam rapidamente aliviados. A OMS (Organização Mundial de Saúde) reforça o seu esforço, em conjunto com os seus parceiros, na investigação de tratamentos específicos para a COVID19.
A DGS está a esconder casos da população?
Não. Todos os casos que sejam suspeitos e que apresentem os critérios clínicos e epidemiológicos validados pela Linha de Apoio ao Médico, são de imediato notificados pelo médico disponível no SINAVE (Sistema de Informação Nacional de Vigilância Epidemiológica). Se depois de todo este processo houver se facto uma confirmação, o mesmo é registado a nível nacional, sendo incluído de imediato no boletim epidemiológico diário da COVID19, disponibilizado pela DGS.
Se conseguir suster a respiração durante 10 segundos, significa que não estou infetado pelo vírus da COVID19?
Não existe até ao momento nenhuma base científica capaz de demonstrar a credibilidade dessa afirmação. Este mesmo mito foi baseado num documento que afirma que a incapacidade de suster a respiração por 10 segundos significava a presença de fibrose pulmonar, que seria um sintoma de COVID19. No entanto, nem a incapacidade de conter a respiração por 10 segundos se traduz em presença de fibrose pulmonar, nem a fibrose pulmonar está associada a esta vírus.
Se beber ou gargarejar água com frequência, elimino o vírus do organismo e previno a infeção?
Mais um mito que tem ocupado o pensamento dos nossos portugueses. Este conceito surge pela possibilidade de que se o vírus entrasse na boca, beber água iria transportá-lo para o estômago, onde o mesmo seria destruído pelo ácido aí presente, prevenindo a sua entrada nos pulmões. Embora que a ingestão de água seja uma ação positiva e benéfica para a saúde, esta não possui qualquer importância na prevenção da Covid-19. Algumas células do nariz, boca e garganta têm um recetor ao qual o vírus se liga para entrar nas células, podendo causar a infeção.
É verdade que comer alho previne a infeção?
Atualmente não estão disponíveis evidências de que comer alho possa prevenir a infeção provocada pelo novo Coronavírus (COVID19). No entanto, de acordo com a OMS, o alho é um alimento saudável e com algumas propriedades antimicrobianas.
O vírus pode ser transmitido por picadas de mosquitos?
Não há ainda nenhuma informação de que a COVID19 possa ser transmitido por mosquitos. A transmissão da COVID19 ocorre essencialmente através de contactos próximos com pessoas infetados pelo vírus, seja através das gotículas respiratórias seja através do contacto com superfícies ou objetos contaminados.
Lavar as mãos com vinagre é eficaz na prevenção da infeção pelo vírus da COVID19?
O melhor recurso para a higienização rápida nas mãos é o uso de uma solução à base de álcool, sendo que a lavagem das mãos com água e sabão é suficiente. Se as soluções de gel forem usadas, há estudos que referem que as mãos devem ser lavadas mais vezes com água e sabão para ir retirando a película que se vai formando ao longo do dia. Posto isto, deixo também presente de que o uso do vinagre para a higienização não está de todo recomendado.
Os secadores de mãos são eficazes a matar o novo Coronavírus?
Não é o suficiente, pelo que os secadores de mãos não são eficazes a matar o novo Coronavírus. Como já referido, a prevenção deste vírus deve ser realizada através da lavagem frequente das mãos com água e sabão ou com a solução á base de álcool (>70%). Depois de lavar as mãos, deve sim secá-las cuidadosamente usando papel ou um secador de ar quente.
Tomar um banho quente previne a COVID19?
Tomar banho é essencial na vida de um ser humano, no entanto tomar banho de água quente não previne a Covid-19. A temperatura corporal irá manter-se na ordem dos 36,537ºC, independentemente da temperatura do banho. Para além disso, tomar banho com a água a temperaturas demasiado altas pode ser prejudicial para si, sob o risco de provocar graves queimaduras.
Uma lâmpada esterilizadora ultravioleta pode matar o novo Coronavírus?
Falso. As lâmpadas ultravioleta não devem de forma alguma serem usadas para esterilizar as mãos ou outras áreas do corpo. A melhor forma de higienizar as suas mãos é com a constante lavagem com água e sabão e a melhor alternativa para higienizar as superfícies é através da limpeza com detergentes. Caso exista um elevado grau de possível contaminação as mesmas devem ser desinfetadas com lixívia.
Borrifar álcool ou cloro por todo o corpo pode matar o novo Coronavírus?
Borrifar álcool ou cloro pelo corpo não mata o vírus que já tenha entrado no corpo do ser humano. Borrifar estas substâncias pode até ser perigoso para as membranas mucosas (por exemplo os olhos e a boca). O álcool e o cloro podem ser usados para desinfetar superfícies, mas de acordo com as recomendações apropriadas.
Espalhar óleo de sésamo pelo corpo bloqueia a entrada do novo Coronavírus?
Mais um mito que circula entre a nossa população fazendo com que os mesmos acreditem e testem. Não, o óleo de sésamo não previne a infeção pelo novo Coronavírus.
A resposta a esta pandemia é ainda um processo complexo. De tal modo, é imperativo que todos estes mitos ou falsas notícias sejam esclarecidos, evitando o surto não só do vírus, mas também de desinformação. Se tiver sintomas, ligue para a linha SNS24: 808 24 24 24.
Informação atualizada até ao dia 16 de março de 2020.